Muito se fala sobre Wicca lá fora, suas Tradições e rituais impecáveis. De fato, a comunidade mágica lá fora é bem participativa, e às vezes se torna nossa principal referência mágica. Até porque, a maioria das coisas que sabemos ou que pesquisamos são oriundas de lá.
Mas e aqui no nosso país, o Brasil. Como é que a nossa comunidade se relaciona? Como nos relacionamos com os demais? Eu comecei a perceber e questionar a importância desse assunto depois de ler e conhecer autores Brasileiros, e ter mais contato com praticantes de todo o país.
Pode ser que algumas opiniões minhas contidas aqui nesse texto, venham a se assemelhar com as da Mavesper Cy Ceridwen, do livro Wicca Brasil, Guia de Rituais das Deusas Brasileiras. É um livro que estou relendo, e que super recomendo para quem está começando na Arte, ou até mesmo para aqueles que queiram ficar por dentro das nossas Divindades locais! E por falar nisso, em breve iniciarei as publicações sobre todas as Divindades!
Antes de mais nada, é importante ressaltar que o Brasil não é, de forma alguma, um país Pagão. Ele é um dos maiores países Cristãos que existem. Nossas raízes pagãs há muito foram postas de lado para dar espaço a uma religião patriarcal importada. Sendo assim, de nada adianta usá-lo atualmente como referência para um exemplo Pagão a ser seguido, pois não há.
Talvez o mais próximo que consigamos chegar do "paganismo" aqui no nosso país são a Umbanda e o Candomblé, e ainda estas são apenas "máscaras" de uma religião Cristã patriarcal. A Umbanda em si, foi criada aqui no Brasil num centro espírita kardecista no Rio de Janeiro em 1911 por Zélio de Moraes, juntamente com seu guia Caboclo das Sete Encruzilhadas. Ela veio para reformular os guias, dando espaço às minorias, que antes eram desprezadas, como a prostituta, a criança, o escravo negro, etc. Seus Orixás, se você parar e estudar, são versões dos santos Cristãos, embora diferentes, sua essência continua a mesma. E isso não é errado e nem pejorativo. É o que é.
O Candomblé sim foi importado por nós como uma religião de raízes africanas e talvez, até mesmo Pagã. Mas pelo menos aqui no Brasil, os lugares que encontramos que praticam sua verdadeira essência Pagã são poucos. O que existe do Candomblé hoje é uma miscelânea com a Umbanda, sendo assim, continuam trazendo a essência patriarcal Cristã.
Então, repetindo, o Brasil não é, e está longe de ser um centro Pagão. Aqui somos a minoria, e viver dessa forma é viver todos os dias lutando contra imposições e tentando se reconectar com as nossas raízes Pagãs. O que me faz entrar em outro assunto: O preconceito que existe com a "importação" de culturas estrangeiras para nós, sendo visto como algo ruim e até algo que prejudique a imagem Pagã daqui, bem como a nossa conexão com a Terra.
CHEGADA DOS COLONIZADORES |
Se estudarmos a história de nosso país, veremos que no início possuíamos um hábito 'infeccioso' de importar tradições e costumes de outros lugares. Os belos jardins e a arquitetura franceses, as línguas, as vestimentas, comidas. Tudo isso foi importado por nós, nada nos pertence. Após algum tempo, houve uma revolução onde, para alguns radicais, isso se tornou totalmente intoxicante, e então, estes extremistas passaram a ter comportamentos xenofóbicos com tudo o que não era originalmente Brasileiro.
Mas o que é originalmente Brasileiro? Desde sempre o Brasil pratica essa "apropriação", ou seja, a forma de conhecer novas culturas e trazermos elementos delas para o nosso cotidiano. É algo inerente à nossa espécie e fazemos isso de forma ativa sem as vezes nem darmos conta. Não é ruim. Não é prejudicial, desde que não chegue ao extremismo em excesso.
Ainda nos dias atuais, há quem julgue aqueles que celebram as Divindades Celtas, dizendo que estão "importando" os Deuses de outras terras, e se esquecendo das nossas próprias raízes. Mas eu digo: Sendo a Wicca uma vertente do Paganismo, que é a Religião da Terra, e entende-se por Terra o planeta todo, sem delimitações geográficas, porque eu estaria "importando" e negando as minhas raízes? Os Deuses não ligam para as nossas delimitações geográficas ou nossos idiomas. Eles são seres elevados de pura energia. Eles estão em tudo e em todos, a diferenciação que possuem são apenas nomes e representações, onde todas elas levam à Deusa e o seu Consorte.
E mesmo eu não tendo nenhuma ligação, seja consanguíneo ou ancestral, com os Ingleses Celtas, os Gregos, etc, isso não fará tanta diferença, pois é o meu coração que está chamando e pedindo isso! Tudo o que fizermos com amor, com devoção é válido! E essa é uma das coisas que a nossa religião nos diz, mas que muitos se fazem de cegos na hora de julgar. Todo preconceito, seja ele qual for, de nada tem valia ao real Paganismo.
A busca pelo Paganismo, em sua essência, como Religião da Terra não é fácil. É preciso um salto quântico para romper com os padrões impostos pelas religiões patrifocais. É preciso romper dois mil anos de grilhões e mordaças embasados nas mitologias judaico-cristãs. É preciso uma redução completa em que nos abrimos a ouvir o chamado da Grande Mãe. É preciso reaprender a escutar as vozes da Água, Terra, Fogo e Ar. É preciso crer em uma cosmogonia igualitária, onde a espécie humana não é mais importante que nenhum animal ou planta. É preciso saber que o solo que pisamos é sagrado, bem como o ar que respiramos, porque constituem o corpo de nossa Mãe". - Mavesper Cy Ceridwen, Wicca Brasil Guia de Rituais das Deusas Brasileiras.
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